Deformidades na coluna vertebral

Quando um jovem apresenta uma deformidade da coluna vertebral que se agrava gradualmente, o tratamento cirúrgico pode ser indicado para melhorar a deformidade.

01) O que é a escoliose?

Dr. Eduardo Iunes (CRM-SP 119.864), neurocirurgião, especialista em coluna – Todas as pessoas apresentam curvaturas naturais na coluna. Estas curvaturas são convexas (lordódicas) nas colunas cervical e lombar, e côncavas (cifótica) na coluna torácica, quando olhamos o RX de lado (perfil). Quando olhamos o RX de frente (AP), a coluna é inteiramente reta, desde a cervical até o sacro. Quando existe alguma curva para algum lado no RX de frente (AP), chamamos esta condição de escoliose, na qual a coluna se parece mais com um “S” do que com uma linha reta. Na verdade, a escoliose é um termo descritivo e não um diagnóstico. Em mais de 80% dos casos, uma causa específica não é encontrada para a deformação na coluna, o que denominamos idiopática (sem causa determinada). Isto é particularmente verdadeiro em relação ao tipo de escoliose diagnosticado em adolescentes. Condições que causam deformidades na coluna vertebral são: anomalias congênitas da coluna vertebral, distúrbios neurológicos, condições genéticas e uma infinidade de outras causas. A escoliose não é decorrente do carregamento de peso, da prática esportiva, de posturas inadequadas para dormir ou ficar em pé ou da desigualdade de comprimento dos membros inferiores.

02) O que é a cifose?

Dr. Eduardo Iunes – Nas primeiras seis e/ou oito semanas de vida embrionária, pode ocorrer um erro genético que resulta numa falha de formação ou numa falha de segmentação dos discos vertebrais. Este defeito faz com que a coluna vertebral desenvolva uma angulação acentuada para frente à medida que cresce. A curvatura para frente da coluna é chamada de cifose e é considerada congênita porque ocorre antes mesmo do nascimento. A cifose congênita não parece ser herdada, mas sim algo que acontece sem motivo conhecido. Existem dois tipos básicos de cifose congênita: a insuficiência de formação e o fracasso de segmentação. A falha de formação em um ou mais discos vertebrais ocorre mais frequentemente nas vértebras toracolombares e resulta numa cifose que normalmente se agrava com o crescimento. A deformidade é normalmente visível no momento do nascimento, como um caroço ou inchaço na coluna vertebral do bebê. O fracasso na segmentação ocorre quando duas ou mais vértebras não conseguem se separar e formam discos anormais. Este tipo de cifose congênita é muitas vezes mais provável de ser diagnosticado mais tarde, depois que a criança já está andando. Existe ainda um tipo de cifose manifestada em adolescentes, chamada cifose de Scheuermann, um tipo de corcunda com ápice bem acentuado e com forte componente familiar. Este tipo de deformidade é facilmente diferenciada da cifose postural, na qual o exame clínico e o RX mostram uma curva sem o ápice agudo.

03) Como saber se eu tenho escoliose?

Dr. Eduardo Iunes – Somente um médico pode determinar se uma pessoa tem ou não escoliose. Para isso, ele realiza um exame físico com o paciente em pé em uma posição relaxada com os braços ao lado do corpo. O médico irá examinar a coluna, procurando curvaturas, assimetria de ombros, assimetria da cintura e qualquer mudança no tronco. Então, pedirá que o paciente dobre sua cintura para frente para observar o aspecto de rotação da escoliose na parte superior das costas e/ou na parte inferior das costas. Após essa análise, o médico geralmente solicita radiografias da coluna vertebral. Se a escoliose estiver presente, o radiologista atribuirá um valor numérico às radiografias, para ajudar a descrever a escoliose.

04) Quais são as deformidades da coluna vertebral?

Dr. Eduardo Iunes – A escoliose é definida como uma curvatura lateral (de lado) anormal da coluna, maior do que 10 graus. Quando o corpo é visto por trás, uma coluna vertebral normal parece reta. No entanto, quando uma coluna com escoliose é visto por trás ou lateralmente, a curvatura pode ser aparente, dando a impressão de que a pessoas está se inclinando para um lado, o que não deve ser confundido com má postura. Uma curvatura de escoliose pode ser funcional ou estrutural. Curvas funcionais podem ser posicionais. Por exemplo, se uma pessoa se levanta de forma assimétrica, com uma inclinação do joelho e da pélvis inclinada para baixo, a curva vai estar presente, mas irá desaparecer logo que o joelho é endireitado e a pélvis é mantida paralela ao chão. Curvas estruturais são aquelas que apresentam rigidez constante, de tal forma que não desaparecem com mudanças de posição. Estas, portanto, têm muito mais importância do que as curvas funcionais. Quando o tronco é visto lateralmente, a coluna normal irá apresentar curvas normais. A área superior da caixa torácica tem uma curvatura normal ou cifose, enquanto a parte inferior da coluna apresenta uma lordose. O aumento da curvatura na região do peito é chamado de hipercifose, enquanto o aumento da curvatura na parte inferior da coluna é denominado hiperlordose.

05) Quais são os sinais evidentes da presença da escoliose?

Dr. Eduardo Iunes – Um ombro pode ser maior do que o outro; uma escápula (omoplata) pode ser maior ou mais proeminente do que a outra; com os braços soltos para o lado, pode haver mais espaço entre o braço e o corpo de um dos lados; um lado do quadril pode parecer maior ou mais proeminente do que o outro; a cabeça não fica exatamente centrada sobre a pélvis; a cintura pode ser achatada em um dos lados; dobras de pele podem estar presentes em um dos lados da cintura e quando o paciente é examinado por trás e o médico solicita que ele dobre para frente horizontalmente sua coluna, um dos lados da parte de trás pode aparecer mais do que o outro. Este teste, chamado de teste de Adams, é o teste de triagem mais frequente de escoliose.

06) O que provoca a escoliose?

Dr. Eduardo Iunes – 85% das pessoas com escoliose têm o tipo “idiopático”. “Idiopático” significa “sem causa conhecida”. No entanto, o termo não é muito preciso. A escoliose idiopática frequentemente ocorre nas mesmas famílias e há um crescente corpo de evidências de que a genética desempenha um papel importante neste processo. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe um teste de rastreio genético, denominado ScoliScore que é um adjuvante de informação clínica e de raios-X para determinar o risco de progressão da escoliose idiopática do adolescente. Este teste atualmente é realizado em pacientes caucasianos (América do Norte, Europa, Leste Europeu, Oriente Médio), com idades entre 9 e 13 anos, com uma curva escoliótica leve (menos que 25 graus). O objetivo declarado do teste é determinar o risco de que a curva irá aumentar para 40 graus ou mais. A escoliose idiopática pode aparecer em qualquer idade, mas aparece com mais frequência no início da adolescência. Nessa idade, os jovens relutam em permitir que seus corpos sejam vistos pelos pais ou por outros adultos, e o problema pode não ser detectado até que já esteja bastante grave. Justamente em função dos adolescentes, seria muito importante a implementação de programas de rastreio escolar para detectar as curvas de escoliose antes que elas possam se tornar mais avançadas e mais difíceis de tratar. Vários tipos menos comuns de escoliose têm uma causa diferente. Estas curvaturas podem aparecer devido à formação anormal das vértebras já presentes no nascimento (escoliose congênita), distúrbios do sistema nervoso central, tais como paralisia cerebral, doenças musculares tais como a distrofia muscular ou doenças genéticas, tais como a síndrome de Marfan ou síndrome de Down. A escoliose pode também ser resultado de infecções da coluna vertebral ou de fraturas envolvendo a coluna vertebral.

07) Quem mais comumente desenvolve escoliose?

Dr. Eduardo Iunes – Na infância, a escoliose idiopática ocorre em meninas e meninos. No entanto, quando as crianças entram na adolescência, a escoliose nas meninas é cinco-oito vezes mais propensa a aumentar de tamanho, o que exige tratamento. A progressão é mais comum durante os anos de crescimento. Curvaturas mais graves podem, no entanto, avançar lentamente durante a idade adulta.
08) Que malefícios para a saúde podem ser decorrentes da escoliose?
Dr. Eduardo Iunes – Dor nas costas pode estar presente com frequência, ela geralmente tende a ser leve e não limita as atividades para a maioria dos pacientes. No entanto, alguns pacientes têm dores mais fortes do que a média. Os pacientes com dores nas costas devem ser cuidadosamente avaliados para outras causas de dor nas costas, além da escoliose. Pacientes idosos com escoliose podem ter mais dor nas costas devido à artrite ou outras doenças de disco na coluna vertebral. A assimetria do tronco também pode ser penosa para o paciente e/ou para os pais. A escoliose grave também pode estar relacionada com uma função pulmonar diminuída devido à distorção e rigidez da caixa torácica.

09) O que pode ser feito para tratar a escoliose?

Dr. Eduardo Iunes – Em 90% dos casos, as curvas da escoliose são leves e não necessitam de tratamento ativo. No adolescente, é muito importante que as curvas sejam monitoradas periodicamente por meio de raios-x. Aumentos da deformidade da coluna vertebral requerem a avaliação de um cirurgião para determinar se um tratamento ativo é necessário. Num pequeno número de pacientes, pode ser necessário um tratamento cirúrgico. Alguns fatores determinam o tratamento ativo da escoliose, tais como a idade cronológica, a idade óssea (a maturação óssea não é a mesma que a idade cronológica), o grau de curvatura, o local da curva na coluna, o estado da puberdade, o sexo do paciente, o agravamento da curva e os sintomas associados, como dor nas costas ou falta de ar.

10) O que causa a cifose anormal?

Dr. Eduardo Iunes – A hipercifose é normalmente utilizada para se referir à curvatura excessiva da coluna vertebral torácica. O excesso de deformidade na coluna pode ser simplesmente postural e, muitas vezes, pode ser corrigido com exercícios e postura correta. Uma pequena porcentagem de pacientes com cifose pode ter mais deformidades rígidas do que a do tipo postural. Este tipo é chamado de cifose de Scheuermann e é muito mais difícil de tratar do que a cifose postural. Sua causa é desconhecida. Órteses podem ser recomendadas para o adolescente com cifose de Scheuermann. Já a cifose congênita, resultado de erros de formação de um ou mais ossos da coluna vertebral, é a causa menos comum de hipercifose e requer uma avaliação de um cirurgião de coluna. A hipercifose pode também ser resultado de doenças médicas, tais como a espondilite anquilosante ou a osteoporose.

11) O uso de órteses é sempre indicado para o tratamento das deformidades da coluna vertebral?

Dr. Eduardo Iunes – O uso de órteses (colares, coletes, cintas) implica no uso de instrumentos aplicados externamente ao corpo para restringir o movimento de segmentos da coluna vertebral. Entre suas funções, destacamos a diminuição da mobilidade de um segmento vertebral, auxílio na recuperação de lesões ósseas e ligamentares, redução da dor e prevenção de deformidades progressivas na coluna. A órtese geralmente é recomendada para escoliose moderada ou cifose anormal. Há muitos tipos de aparelhos, todos concebidos para evitar que as curvaturas aumentem à medida que o adolescente cresce. Ao se indicar uma órtese para a coluna devemos determinar qual o seu objetivo, qual o segmento envolvido e qual movimento se pretende limitar. Órteses rígidas controlam melhor a posição da coluna através da aplicação de forças externas. Órteses menos rígidas podem ser usadas para alívio de dores musculares ou auxílio na recuperação de fraturas mais estáveis, sendo, nesta situação, utilizadas para auxiliar na recuperação da coluna e da musculatura e não para preservar sua integridade estrutural.

12) Quando uma deformidade da coluna exige a realização de uma cirurgia?

Dr. Eduardo Iunes – Quando um jovem apresenta uma deformidade da coluna vertebral que se agrava gradualmente, o tratamento cirúrgico pode ser indicado para melhorar a deformidade e evitar o aumento da deformidade no futuro. O procedimento cirúrgico mais comum é a fusão vertebral posterior com instrumentação e enxerto ósseo. O termo “instrumentação” refere-se a uma variedade de dispositivos, tais como hastes, ganchos, fios e parafusos, que são utilizados para assegurar a correção da coluna vertebral com um alinhamento o mais perto possível do normal, enquanto a fusão do osso se processa. Uma série de fatores influencia a recomendação para a cirurgia: a área da coluna envolvida; a gravidade da escoliose; a presença de um aumento ou diminuição da cifose; dor (rara em adolescentes, mais comum em adultos); o crescimento remanescente da curvatura e fatores pessoais. Há sempre riscos que acompanham qualquer procedimento cirúrgico. Estes devem ser discutidos com o cirurgião que acompanha cada paciente.

Redação Vida Equilíbrio

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