Pacientes com glaucoma não seguem as orientações dos oftalmologistas

Um estudo recente, publicado no Archives of Ophthalmology – Impact of a Health Communication Intervention to Improve Glaucoma Treatment Adherence –  reforça a ideia de que a adesão do paciente ao tratamento é um grande desafio no caso do glaucoma. Nem mesmo quando recebem um telefonema diariamente, para lembrá-los da medicação, os pacientes com glaucoma se sentem motivados a participarem mais ativamente do tratamento.

O estudo, realizado na Universidade da Pensilvânia, recrutou 312 pacientes (18-80 anos de idade) com glaucoma que não demonstravam uma boa adesão ao tratamento porque não utilizavam a medicação corretamente, não seguiam as prescrições médicas e / ou não voltavam com regularidade ao oftalmologista.

Os pacientes foram divididos em um grupo de intervenção e outro de controle. O grupo de intervenção recebeu telefonemas automatizados e interativos, bem como materiais impressos adaptados às suas necessidades. O grupo de controle recebeu apenas as recomendações usuais nas consultas médicas, consideradas habituais nestes casos.

Durante o período de estudo, a adesão dos pacientes ao tratamento do glaucoma melhorou em ambos os grupos. A participação no estudo e as entrevistas frequentes com os pesquisadores podem ter contribuído para esta melhora global na adesão ao tratamento. No entanto, as chamadas telefônicas interativas e os materiais impressos sob medida não melhoraram significativamente a adesão do grupo de intervenção, em relação ao grupo de controle.

O glaucoma é uma doença que, por suas características clínicas e seu prognóstico visual requer comprometimento do paciente com o tratamento. Trata-se de uma doença crônica que deve receber acompanhamento e tratamento prolongados, condições que podem prevenir a cegueira.

“A falta de adesão ao tratamento pelo paciente é uma causa importante de controle inadequado de pressão intraocular. São muitos os pacientes em tratamento que deixam de usar os medicamentos antiglaucomatosos corretamente. É de extrema importância a manutenção e o reforço das orientações médicas durante todo o tratamento, pois assim como a diabetes e a hipertensão arterial, o glaucoma não tem cura, mas é passível de controle, garantindo a qualidade de vida do paciente”, destaca ao oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

Dificuldades com os colírios
Um outro estudo, publicado no Journal of Glaucoma – Evaluating Eye Drop Instillation Technique in Glaucoma Patients – revelou que 9 em cada 10 pacientes com glaucoma não foram capazes de instilar o colírio corretamente,  o que pode ser uma importante causa da falta de adesão do paciente ao tratamento médico proposto.
Para realizar o estudo, 70 pacientes com glaucoma, com idade média de 54 anos, concordaram com o registro em vídeo de sua automedicação. Assim, diante das câmeras, eles deveriam instilar o medicamento nos olhos, da mesma maneira que faziam em casa, sozinhos.

Os parâmetros que foram registrados visavam observar o tempo levado para incutir a primeira gota do medicamento, o total de gotas instiladas, o local de contato de cada gota, qualquer contato com a extremidade da embalagem do medicamento e o fechamento das pálpebras ou do duto lacrimal após a instilação do colírio. Assim:

– O tempo médio necessário para instilar a primeira gota foi de 14,8 ± 3,7 segundos (intervalo 8,7-23,5 s);
– O número médio de gotas espremidas a partir do frasco por instilação foi de 1,8 ± 1,2 gotas (intervalo, 1-8 gotas);
– Em 22 pacientes (31,43%), o colírio caiu nas pálpebras ou nas bochechas;
– Cinquenta e três pacientes (75,7%) tocaram o globo ocular ou o tecido periocular com o frasco do medicamento, contaminando o remédio;
– Vinte pacientes (28,57%) fecharam os olhos após instilar as gotas de colírio;
– 4 pacientes (5,7%)tiveram  oclusão do ponto lacrimal;
– Apenas 6 pacientes (8,57%) foram capazes de fazer a instilação correta do colírio: espremer o frasco em queda e instilar o medicamento no saco conjuntival, sem contato da ponta do frasco com o olho.

Importância da relação médico-paciente
O conhecimento em relação à doença ocular é condição necessária e antecede as ações do indivíduo para preservar a própria visão. Ações educativas na relação médico-paciente constroem a base para a promoção da saúde ocular e a preservação do sistema visual, aumentando a capacidade dos indivíduos de tomar decisões relativas a comportamentos que influenciarão seu nível de saúde ocular.

“A orientação da população sobre o glaucoma deve ser feita de forma contínua e progressiva, levando-se em conta as concepções e significados que as comunidades atribuem à doença e ao seu tratamento”, destaca o oftalmologista Ricardo Giacometti Machado, que também integra o corpo clínico do IMO.

A relação médico-paciente é a mais importante fonte de informações para o paciente portador de glaucoma, associada ao acesso a jornais, internet, revistas ou livros. Os oftalmologistas desempenham um papel importante na detecção precoce do glaucoma e na sua desmistificação.

“Apesar de anos e anos de pesquisas, uma cura para o glaucoma ainda está longe. Na melhor das hipóteses, os oftalmologistas, hoje, podem evitar a cegueira com tratamentos para redução da pressão intraocular (PIO), com o uso de colírios, laser e cirurgias. Mas todas estas formas de terapêutica estão longe de ser a cura e podem apresentar efeitos colaterais. Portanto, o investimento no aprimoramento da comunicação com o paciente deve ser constante. Consultas presenciais, telefonemas e todos os aliados tecnológicos, como aplicativos para celular, podem auxiliar muito os oftalmologistas neste sentido”, diz o oftalmologista.

Estima-se que 60,5 milhões de pessoas tenham glaucoma no mundo. Deste contingente, 44,7 milhões estão com o diagnóstico de glaucoma de ângulo aberto e 15,7 milhões apresentam glaucoma de ângulo fechado. Este número deverá aumentar para 80 milhões até 2020, principalmente devido ao envelhecimento da população mundial. Os dados são do estudo The number of people with glaucoma worldwide in 2010 and 2020, realizado por Harry Quigley, diretor do Dana Center for Preventive Ophthalmology, Wilmer Eye Institute, Johns Hopkins University, Baltimore.

Redação Vida Equilíbrio

 

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