Pneumonia: Perigo nos extremos da vida
Em março, com a chegada do outono, começa o período ideal para a prevenção das doenças respiratórias, que são hoje uma das principais causas de morte no Brasil e se disseminam com mais facilidade nos meses frios. Segunda infecção respiratória mais frequente no País, a pneumonia representa uma grande ameaça à saúde dos grupos que estão nos extremos da vida: crianças e idosos. Todos os anos, centenas de brasileiros nessas faixas etárias perdem a vida por causa da doença.
Neste contexto, um fenômeno recente tem preocupado os infectologistas: o aumento no Brasil do número de casos de pneumonia causados pela cepa 19A, uma linhagem que é resistente a antibióticos. O cenário é particularmente preocupante em crianças abaixo de cinco anos. Entre 2006 e 2012, por exemplo, a incidência desse sorotipo no Brasil saltou de 3,8% dos casos para 9,6% nessa faixa etária, como aponta o Sireva – Sistema Regional de Vacinas da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). 1,2
Fundado nos anos 1990, o Sireva é um sistema de vigilância laboratorial da bactéria pneumococo, responsável pela maioria dos casos de pneumonias bacterianas. Dados da Organização Mundial da Saúde revelam que o Brasil está entre os 15 países com maior incidência de infecções por esse microrganismo.3,4O uso amplo e inadequado de antibióticos tem levado o pneumococo a sofrer mutações genéticas, o que ajuda a explicar o surgimento de linhagens resistentes à medicação, como é o caso da cepa 19A.
O Sireva monitora a distribuição dos sorotipos de pneumococo e a suscetibilidade dessas cepas a antibióticos em 20 países da América Latina. No Brasil, essa rede é composta por laboratórios de instituições públicas e universidades de 20 cidades diferentes.
No caso do aumento da cepa 19A, o Brasil segue uma tendência mundial, uma vez que esse fenômeno já foi identificado também nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália.5 Na América Latina, a situação começou a se tornar preocupante recentemente: após 20 anos de estabilidade do sorotipo 19A, atualmente os infectologistas ressaltam a necessidade de monitoramento, como recomenda o estudo “A cepa 19A do Streptococcus pneumoniae na América Latina e Caribe: uma revisão sistemática e de meta-análise, 1990-2010”, publicado pela revista científica BMC Infectious Disease6. Esse trabalho científico foi baseado na análise de 100 artigos, que investigaram o pneumococo em crianças menores de seis anos em 22 países.
“Diante deste cenário, a prevenção por meio da imunização se configura como a melhor alternativa para evitar a contaminação das crianças pelo pneumococo”, afirma a infectologista Rosana Richtmann, doutora em Medicina pela Universidade de Freiburg (Alemanha) e médica das Comissões de Controle de Infecção (CCIH) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e das maternidades Santa Joana e Pro Matre Paulista.
A Prevenar 13 é a única vacina de longa duração licenciada no Brasil que oferece proteção contra o sorotipo 19A do pneumococo para crianças entre seis meses e seis anos de idade. Além disso, o imunizante protege contra outras 12 cepas: 1, 3, 4, 5, 6A, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19F e 23F.