Atenção com doenças urológicas na infância é fundamental para minimizar consequências em vida adulta

A maioria das pessoas acredita que os problemas urológicos estão relacionados à vida adulta do homem ou à terceira idade. Mas o que pouca gente sabe, é que muitas doenças afetam os sistemas reprodutor e urinário das crianças, exigindo atenção e cuidado adequados, já que podem trazer consequências psicológicas, levar à infertilidade e, até mesmo, à morte. É o que afirma o urologista André Guilherme Cavalcanti, chefe do setor desta especialidade no Hospital Municipal Souza Aguiar (RJ), que alerta ainda para o fato de que, por falta de orientação, muitos pais não têm conhecimento de que alguns distúrbios urológicos não são tão simples quanto parecem:

– Urologista também é médico de crianças, e para tratá-las, há, inclusive, uma sub-especialidade chamada uropediatria. Por associarem doenças urológicas aos adultos e idosos, muitos pais acabam negligenciando o problema e aumentando o risco de complicações – diz o especialista, que é diretor do Centro de Cirurgia Urológica Reconstrutora Pélvica e Genital, direcionado tanto a homens quanto a mulheres, e que, em agosto, inaugura o Centro de Saúde Integrada do Homem, com atendimento clínico ao público infantil masculino.

A enurese noturna é um exemplo e, apesar de ser um dos problemas urológicos mais comuns em crianças, costuma ter tratamento postergado. “Muitos pais acham normal o hábito de fazer xixi na cama e não buscam ajuda médica. Embora pareça inofensivo, o costume não deve ser negligenciado, pois pode persistir e acompanhar a criança até a adolescência, trazendo constrangimento e problemas psicológicos”, alerta o Dr. André Cavalcanti. Ele chama atenção, também, para uma outra patologia que pode trazer consequências sérias à saúde da criança e que comumente é deixada de lado: a fimose. Apontada como uma das causas para o possível aparecimento de um câncer de pênis, ela representa a impossibilidade de retrair a pele do membro (prepúcio) para expor a glande (cabeça), e costuma ser normalizada até os três anos de idade. Porém, um em cada dez meninos chega aos 17 anos sem que a pele tenha retraído, sendo necessária uma incisão cirúrgica, que se torna mais dolorosa e complicada com o passar dos anos.

A disfunção miccional é mais uma complicação urológica que pode atingir os pequenos e é, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, responsável por cerca de 40% das consultas infantis. Muito confundida com a enurese noturna, ela causa perdas urinárias tanto na parte da noite, como do dia, afetando crianças neurologicamente normais. Além do incômodo e constrangimento, a disfunção pode gerar constipação intestinal e infecção urinária, que, em casos extremos, levar à morte.

Mas não é só isso, ainda na barriga da mamãe, o bebê pode desenvolver doenças urológicas sérias. A hipospádia e o criptorquismo são enfermidades facilmente detectadas pelos pais em uma observação superficial da morfologia dos filhos e devem ser tratadas até um ano de idade, sob o risco de comprometer a fertilidade masculina de maneira irreversível:

– A hipospádia é uma anomalia com índices crescentes nos últimos anos. Ela acontece quando a abertura da uretra do bebê encontra-se em local anormal ao longo do órgão genital e costuma ser operada a partir dos seis meses de idade. Já o criptorquismo é caracterizado pela ausência do testículo dentro do saco escrotal e é uma das anomalias mais comuns da infância, ocorrendo em 3 a 4% das crianças – explica o urologista.

Apesar de algumas doenças urológicas infantis serem inevitáveis, o diagnóstico precoce é fundamental para assegurar que a criança não sofra conseqüências. É importante que os pais fiquem atentos e busquem imediatamente a orientação de um uropediatra ao sinal de qualquer alteração.